O
açúcar da chicória
Unicamp
desenvolve nova técnica para extrair da verdura a inulina, que
substitui o açúcar e a gordura com vantagem de ter baixa
caloria
MANUEL
ALVES FILHO
Pesquisadores
da Unicamp estão concluindo um novo processo para a extração
de inulina a partir da raiz da chicória, verdura comum na mesa
dos brasileiros. Em países como os Estados Unidos, Canadá
e integrantes da União Européia, únicos a deter
esse tipo de tecnologia, a substância é utilizada pelas
indústrias alimentícia e farmacêutica como substituta
do açúcar e da gordura, com uma vantagem adicional: tem
baixíssima caloria.
A
pesquisa em torno da extração da inulina está sendo
realizada em duas frentes. A primeira, sob a responsabilidade do Centro
Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas
(CPQBA), tem por objetivo desenvolver a cultura da chicória no
Brasil. A planta é típica de regiões de clima temperado,
como EUA e Europa. A segunda etapa, feita em laboratório por
especialistas da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri), consiste
justamente na definição da nova técnica para a
extração da substância substituta do açúcar.
De
acordo com a engenheira agrônoma Juliana Tófano de Campos
Leite, cuja dissertação de mestrado faz parte da pesquisa,
a escolha da chicória se deu porque, além de ser de cultivo
relativamente fácil, a planta tem uma grande concentração
de inulina. "Existem cerca de 30 mil vegetais que contêm
a substância, mas a chicória apresenta vantagens em relação
à produção e rendimento", explica. A extração
da inulina, segundo ela, é executada por meio da difusão
em água quente. Com isso, obtém-se um extrato líquido,
que posteriormente passa por um processo de secagem por atomização.
O produto final é apresentado na forma de um pó branco,
mais fino do que o açúcar comum.
A
inulina, conforme Juliana, é um tipo de açúcar
(frutoligossacarídeo) que não é digerido pelo estômago.
Ou seja, ela não acrescenta calorias ao ser ingerida. Essa característica
faz com que o produto possa ser utilizado por pessoas que sofrem restrição
ao consumo do açúcar, como diabéticos e obesos.
A inulina pode ser considerada, ainda, um alimento funcional. Ou seja,
ela melhora algumas funções do organismo, ajudando assim
a prevenir doenças. Pesquisas indicam que a substância
fortalece as bifidobactérias (bactérias encontradas no
intestino humano e que fazem parte da flora intestinal), que auxiliam
nas atividades digestivas. Para completar, também contribui para
o controle dos níveis de colesterol.
Patente
Os pesquisadores da Unicamp ainda não têm idéia
de quando a inulina estará sendo produzida em escala industrial
no Brasil, pois isso dependerá de entendimentos com a iniciativa
privada. De acordo com Kil Jin Park, professor da Feagri e um dos coordenadores
da pesquisa, o pedido de patente do novo processo já foi depositado.
Isso poderá trazer ganhos para o país, dado que o Brasil
ainda é obrigado a importar a substância. A pesquisa realizada
conta com bolsa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico (CNPq) e financiamento da Fundação
de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).