Estudo
inédito da Feagri aponta o potencial
eólico do Estado e destaca a sua importância para a geração
de energia elétrica
Os
bons ventos
que sopram em São Paulo
MANUEL
ALVES FILHO
O Estado
de São Paulo apresenta importante potencial eólico para
geração de
energia elétrica, que serviria como complemento à sua
matriz energética. A conclusão é de um estudo original
desenvolvido para a dissertação de mes-trado de Adriana
Rocha Ferreira Miguel, defendida recentemente na Faculdade de Engenharia
Mecânica (FEM) da Unicamp. A pesquisadora coletou, sistematizou
e interpretou dados sobre freqüência, intensidade e direção
dos ventos, fornecidos por 28 estações meteorológicas.
Além disso, ela também analisou a rugosidade do solo e
o relevo do Estado. “Embora as informações disponíveis
não sejam muito confiáveis, por estarem subestimadas,
foi possível constatar que a geração de eletricidade
a partir da energia eólica pode vir a ser uma alternativa técnica
e economicamente viável para auxiliar no atendimento da demanda
regional”, afirma.
Dados vieram de 28 estações
meteorológicas
Antes do trabalho de Adriana,
que foi orientada pelo professor Luiz Antonio Rossi, da Faculdade de
Engenharia Agrícola (Feagri), não havia informações
disponíveis sobre o potencial eólico paulista, a não
ser aquele estimado pelo Atlas Eólico Nacional, com metodologia
distinta da usada por ela. A autora da dissertação afirma
que encontrou uma série de dificuldades para coletar os dados
necessários ao estudo. Primeiro, as estações meteorológicas,
como o próprio nome sugere, foram concebidas para fornecer indicadores
climatológicos e não sobre o comportamento do vento especificamente,
com foco para geração de energia elétrica. Assim,
vários de seus instrumentos não são os mais adequados
para realizar o tipo de medição que interessava à
pesquisa. Os aparelhos específicos que captam a intensidade e
a freqüência do vento, por exemplo, operam a uma altura de
dez metros.
“A altura recomendada para realizar
esse tipo de medição varia de 25 a 50 metros, sendo esta
última a melhor”, explica o professor Rossi. Por meio
de uma equação matemática e de softwares específicos,
que permitem resultados precisos, Adriana extrapolou os dados coletados
pelas estações meteorológicas para 50 metros e
estendeu a cobertura para todo o Estado. Assim, ela obteve o potencial
eólico geral de São Paulo. Paralelamente, como já
foi mencionado, a autora do trabalho analisou a rugosidade do solo e
as diferenças de relevo, variáveis que interferem decisivamente
no comportamento do vento. Com isso, ela desenvolveu uma metodologia
que pode ser aplicada a qualquer Estado, de modo a promover o levantamento
da sua potencialidade eólica.
Durante investigação, Adriana
conta que deparou com um outro sério problema. Como não
foram concebidas para considerar a energia eólica como potencial
geradora de eletricidade, várias estações meteorológicas
estão situadas em pontos desfavoráveis. Uma delas, por
exemplo, foi instalada ao lado de um morro. Ou seja, o acidente geográfico
funciona como um obstáculo ao vento, impedindo conseqüentemente
a sua medição em todos os sentidos. Adicionalmente, queixam-se
a pesquisadora e o professor Rossi, muitas instituições
que detêm dados sobre o assunto dificultaram o acesso a essas
informações, em virtude de procedimentos burocráticos.
Depois de concluir o levantamento, Adriana
tratou de estratificar as estações meteorológicas,
segundo o seu potencial eólico. Ele dividiu as unidades em três
seguimentos: pequeno (22), médio (5) e grande porte (1). A única
enquadrada na terceira categoria foi a estação presente
na Ilha da Moela, uma concessão da Marinha localizada a dois
quilômetros da cidade de Santos. De acordo com o professor Rossi,
o potencial eólico não deve ser analisado apenas sob o
ponto de vista da geração de eletricidade, embora esta
seja a contribuição mais nobre desse tipo de fonte. “O
vento também gera potência mecânica, que pode ser
usada para o bombeamento de água, irrigação e carregamento
de baterias”, destaca. Ou seja, mesmo os locais com pequeno potencial
eólico podem contribuir para a redução do consumo
de eletricidade ou gerar energia elétrica em volume suficiente
para iluminar uma casa ou barracão na zona rural.
Competitividade O aproveitamento
da energia eólica para a geração de energia elétrica
é praticamente insignificante no Brasil, se tomados como referência
tanto o potencial estimado, quanto o já inventariado e outorgado,
de acordo com o professor Rossi, da Feagri. Equivale, em âmbito
nacional, a menos de 0,1% da geração de energia e a 0,03%
da potência instalada na matriz energética, percentual
irrisório se comparado com o da Alemanha, país em que
15% da matriz energética de 12.000MW vêm de usinas eólicas.
Um dos principais motivos para que essa fonte seja desconsiderada, na
opinião do especialista, é a falta de políticas
de governo que a tenham como estratégica para o esforço
de crescimento da nação. Como conseqüência
da falta de apoio, a energia eólica ainda se mantém pouco
competitiva, se comparada com a hidráulica.
Enquanto 1MWh de energia elétrica
gerada pelos ventos custa US$ 62, a mesma energia produzida por uma
hidrelétrica sai por praticamente a metade, US$ 36. “Por
enquanto, a energia eólica, em locais favoráveis, só
compete com a hidráulica em relação ao custo de
instalação. Para cada MW instalado, a primeira exige gastos
médios da ordem de US$ 1,3 mil e a segunda, US$ 1,2 mil”,
assegura o professor Rossi. Ele ressalta, entretanto, que o aproveitamento
do vento para essa finalidade causa muito menos impacto ao meio ambiente.
“Isso só acontece na fase da instalação
da usina eólica, quando os equipamentos são transportados
por veículos automotores. Depois, na etapa de operação,
o impacto é praticamente nulo”, sustenta o docente da
Feagri.
Rossi afirma que o momento para o aproveitamento
do potencial eólico paulista, assim como o de outros Estados,
é a partir de agora. Ele defende a realização de
um planejamento estratégico estadual na área energética
que contemple fortemente as fontes renováveis de geração
de eletricidade. “Penso que o Estado de São Paulo se ressente
de um departamento que converse com as instituições que
trabalham ou desenvolvem pesquisas nessa área. Faltam-nos gestores
para promover o consórcio entre esses atores, de forma a instalar
uma rede dedicada para a geração de energia limpa”,
propõe o docente da Feagri.
Desenvolvendo atualmente a sua tese de doutorado,
Adriana Miguel investiga o potencial de arrecadação do
Brasil em créditos de carbono, a partir do uso de fontes renováveis,
especialmente a energia dos ventos. Por meio do Protocolo de Kyoto,
firmado em 1997, os países industrializados se comprometeram
em investir em projetos executados por nações em desenvolvimento
ou subdesenvolvidas que promovam a redução das emissões
de gases de efeito estufa. Algumas estimativas dão conta de que
cada tonelada de carbono que deixa de ser jogada na atmosfera possa
reverter aos cofres brasileiros recursos que variam de US$ 10 a US$
100.
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