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Agricultoras de assentamentos mostram artesanato na Feagri

Um grupo de agricultoras esteve nesta quarta-feira (12) na Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Unicamp para expor o produto de seu trabalho nos assentamentos rurais das cidades de Sumaré, Mogi Mirim e Itapeva, todas do Estado de São Paulo. Além de se mostrarem dedicadas aos serviços domésticos nesses locais, elas vêm se destacando como verdadeiras líderes camponesas na administração de artesanato especialmente desenvolvido para ajudar a compor o orçamento do lar. Elas trouxeram à Unicamp mais de uma dezena de produtos para expor. Bijuterias, compostas de frutas, doces, pães, fitoterápicos e artesanato em fibra de banana foram apenas uma amostra.
Maria Ileide Teixeira vive no assentamento de Mogi Mirim há dez anos. Está criando os netos lá e dá seu depoimento de que não se vê morando em outro local. "É a minha vida e o que me satisfaz. Além de tudo, é o que põe a comida na minha mesa", enfatizou enquanto arrumava as barracas em área livre próxima à diretoria da Faculdade. Vender produtos nas feiras, nas ruas e sob encomenda já mudou a rotina de sua casa. Ela e as amigas se reúnem para pôr em funcionamento o comércio de produtos de padaria, farinha, artesanato, ervas medicinais e processamento de frutas.
Aos 52 anos, Ileide mostra-se disposta e incentiva outras agricultoras a fazer o mesmo. Ela sonha com o futuro, embora dizendo que viver o presente é ter os pés no chão. "Um dia teremos uma padaria ou uma fábrica, repartindo os lucros e as dificuldades", planeja. E estar buscando um contato estreito com a Universidade é para ela uma oportunidade de divulgar o que é feito nos assentamentos e confere "grande peso" para reforçar o trabalho bem-feito, realizado com carinho para o consumidor gostar.
Maria da Glória compartilha desses mesmos sonhos e ressalta que tentar ganhar pelo preço mais baixo pode render boas vendas. Com o dinheiro em mãos, as agricultoras se reúnem para dividir o lucro. "Nosso trabalho não pára. Fazemos tapetes, almofadas e muitas outras coisas. O dinheiro serve para ajudar na compra de material escolar para nossas crianças e na compra do mês", conta.
Unida à causa dos moradores dos assentamentos agrários através de sua pesquisa na Área de Extensão Rural, a pesquisadora Kellen Junqueira comenta que os assentamentos hoje reúnem grupos crescentes de agricultores em áreas de reforma. "Existe um preconceito muito grande projetado para estas pessoas. Mas basta acompanhar por alguns dias o trabalho organizado e garimpeiro que eles fazem para reconhecer seu valor legítimo", afirma.
Estudando o tema desde 1989, Kellen lembra que o artesanato é apenas uma das rotinas desses assentamentos. Recordou que, na Feagri e em outras unidades da Unicamp, há várias iniciativas em relação aos assentamentos. Uma das mais recentes é um projeto financiado pelo CNPq sobre juventude rural. Nele, busca-se conhecer as expectativas dos jovens para dar, ou não, continuidade ao trabalho já efetuado pelas suas famílias pois, para muitos deles, somente o fruto da terra já não mais satisfaz.

(Isabel Gardenal)
Fotos: Antônio Scarpinetti
Edição de imagens: Natan Santiago